O porquê do nordestino tender ao lulismo.
Introdução
A tendência de parte da população nordestina ao "lulismo" — o apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e suas políticas — pode ser analisada por diversos fatores históricos, sociais e econômicos que moldaram a relação entre a região e o petismo ao longo das últimas décadas. Ao contrário do que a maioria dos sudestinos e sulistas fala, que é culpa da má alfabetização, o verdadeiro motivo, gostando ou não, é que a gestão Lula, sendo ele responsável ou não, teve um impacto significativo no Nordeste.
Não irei entrar na questão ideológica ou que Lula apenas "surfou" nas commodities, só irei mostrar com fontes as melhoras no Nordeste durante sua gestão que foram responsáveis pelo advento do lulismo no Nordeste.
A Melhora da Alfabetização do Nordeste
Durante os governos de Lula (2003-2010), houve avanços significativos na alfabetização no Nordeste, impulsionados por políticas educacionais que buscaram reduzir desigualdades históricas e ampliar o acesso à educação.[1]
Antes de Lula assumir, o Nordeste apresentava os piores índices de alfabetização do Brasil. Segundo o IBGE, em 2000, a taxa de analfabetismo na região era de cerca de 24,3% entre pessoas com 15 anos ou mais, muito superior à média nacional (13,6%). Essa realidade refletia décadas de subinvestimento em educação e a exclusão de populações pobres, especialmente nas áreas rurais. O Sudeste e o Sul do Brasil receberam mais investimentos em infraestrutura e educação ao longo do século XX, enquanto o Nordeste ficou à margem do desenvolvimento industrial e urbano. Isso gerou um atraso crônico nos indicadores educacionais da região. Em 1990, a taxa de analfabetismo no Nordeste era de 34,6% (IBGE), quase o triplo da média do Sudeste (12,5%). Mesmo com melhoras ao longo das décadas, a região continuava liderando esse índice negativo. O Censo Escolar mostrava altas taxas de abandono no ensino fundamental e médio, especialmente entre adolescentes, devido à necessidade de trabalhar ou à baixa qualidade do ensino. Até o início dos anos 2000, muitas escolas nordestinas careciam de água, energia elétrica ou materiais básicos, o que afastava alunos e dificultava o trabalho docente.
Logo em 2003, programas como o Brasil Alfabetizado foram lançados, esse programa visava alfabetizar jovens e adultos que não tiveram acesso à escola na idade regular. No Nordeste, onde o analfabetismo adulto era mais prevalente, o programa teve forte atuação, mobilizando professores e voluntários para atender comunidades carentes.
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (FUNDEB): Criado em 2007, substituiu o FUNDEF e ampliou o financiamento da educação básica, destinando mais recursos a estados e municípios pobres, muitos no Nordeste. Isso permitiu a contratação de professores e a melhoria de infraestrutura escolar.
Houve aumento no número de escolas e na formação de professores, com iniciativas como o Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR), que qualificou educadores já atuantes, muitos no Nordeste.
Resultados
Redução do Analfabetismo: Dados do IBGE mostram que, entre 2003 e 2010, a taxa de analfabetismo no Nordeste caiu de cerca de 22% para 16,9% entre pessoas com 15 anos ou mais. Entre crianças e jovens, os avanços foram ainda mais expressivos, com a universalização do ensino fundamental avançando na região.
Matrículas: O Censo Escolar indica que o número de matrículas no ensino fundamental no Nordeste cresceu, e a evasão escolar diminuiu, resultado direto de políticas como o Bolsa Família e a melhoria da infraestrutura escolar.
Em todo o Nordeste, os efeitos foram mais sentidos em áreas rurais e entre populações historicamente excluídas, como quilombolas e trabalhadores agrícolas. A combinação de alfabetização de adultos (via Brasil Alfabetizado) e inclusão de crianças nas escolas criou um ciclo de redução do analfabetismo intergeracional.
Em 2025, o Nordeste ainda enfrenta ecos dessa exclusão histórica, embora os indicadores tenham melhorado gradualmente. Dados recentes do IBGE (até 2023) mostram que a taxa de analfabetismo na região caiu para cerca de 12%, mas permanece acima da média nacional (5,6%). A exclusão agora se manifesta mais na qualidade do ensino e no acesso ao ensino médio e superior, com muitos jovens abandonando os estudos por falta de perspectiva econômica.
A Melhora Econômica do Nordeste
Antes de 2003, o Nordeste enfrentava uma economia fragilizada por décadas de subdesenvolvimento, com alta dependência da agricultura de subsistência, baixa industrialização e indicadores sociais como pobreza extrema (acima de 40% da população em 2000, segundo o IBGE) e desigualdade gritante. A região contribuía com apenas cerca de 13% do PIB nacional, apesar de abrigar quase 28% da população brasileira.
Bolsa Família: Lançado em 2003, consolidou e ampliou programas anteriores, beneficiando milhões de famílias nordestinas. Em 2010, cerca de 50% dos beneficiários do programa estavam no Nordeste (IPEA). O dinheiro injetado diretamente nas mãos das famílias mais pobres estimulou o consumo local, movimentando pequenos comércios e a economia informal. Estudos do IPEA estimam que o Bolsa Família aumentou a renda familiar per capita no Nordeste em até 20% em algumas áreas, reduzindo a pobreza extrema de 19,4% em 2003 para 8,8% em 2010.
Salário Mínimo: Lula implementou uma política de valorização real do salário mínimo, com aumentos acima da inflação (de R$ 200 em 2002 para R$ 510 em 2010). Como o Nordeste tinha muitos trabalhadores informais e aposentados ligados ao mínimo, isso ampliou o poder de compra na região.
PAC (Programa de Aceleração do Crescimento): Investiu em rodovias, portos e energia no Nordeste, como a duplicação da BR-101 e a expansão da refinaria Abreu e Lima (PE). Isso atraiu empresas e estimulou o setor de construção civil.
Expansão do Crédito e Consumo: A ampliação do crédito consignado e programas como o Minha Casa, Minha Vida (lançado em 2009) aqueceram o mercado imobiliário e de bens duráveis no Nordeste. Famílias passaram a comprar eletrodomésticos e construir casas, dinamizando a economia local.
A instalação de polos industriais, como o Complexo Industrial e Portuário de Suape (PE), e incentivos fiscais atraíram empresas. O desemprego caiu de 12,7% em 2003 para 8,5% em 2010 no Nordeste (IBGE), refletindo a criação de empregos formais.
Resultados Econômicos
- Crescimento do PIB Regional: Entre 2003 e 2010, o PIB do Nordeste cresceu a uma média anual de 4,8%, acima da média nacional em alguns anos (IPEA). A participação da região no PIB brasileiro subiu de 13,2% em 2002 para 13,8% em 2010.
- Redução da Desigualdade: O índice de Gini no Nordeste caiu de 0,58 em 2003 para 0,52 em 2010 (IBGE), mostrando uma distribuição de renda mais equilibrada, impulsionada por políticas sociais e aumento do emprego.
- Consumo e Comércio: O varejo nordestino cresceu significativamente, com o volume de vendas subindo 60% entre 2003 e 2010 (CNC), reflexo do maior poder aquisitivo.
Inclusão Social: A combinação de renda e infraestrutura reduziu a dependência de economias de subsistência, integrando mais nordestinos ao mercado consumidor.
A melhora econômica no governo Lula consolidou uma percepção positiva na região, associando o "lulismo" a um período de prosperidade relativa. Dados do IBGE mostram que, em 2010, a renda média mensal per capita no Nordeste havia subido de R$ 341 (2003) para R$ 562 (valores ajustados), um salto significativo em termos reais.[2]
Origens do Lulismo no Nordeste
O "lulismo nordestino" pode ser entendido como o fenômeno político, social e cultural que explica a forte adesão de grande parte da população do Nordeste brasileiro ao Lula e ao Partido dos Trabalhadores (PT) e às ideias associadas a eles. Esse apoio não é apenas eleitoral, mas também simbólico e emocional, enraizado em transformações concretas e na identificação com a figura de Lula.
Como vimos, os governos Lula (2003-2010) trouxeram avanços econômicos ao Nordeste: o Bolsa Família reduziu a pobreza extrema, o aumento do salário mínimo elevou a renda, e obras como a transposição do rio São Francisco atenderam demandas históricas. Esses ganhos criaram uma memória coletiva de prosperidade e inclusão.
Identidade e Representatividade: Lula, nascido em Caetés (PE), carrega uma trajetória de origem humilde que ressoa com a experiência de muitos nordestinos. Sua fala simples, sotaque e história de migração para o Sudeste refletem a luta da região contra a exclusão e busca por melhores condições. Ele é visto como "um dos nossos" que chegou ao poder e VOLTOU A OLHAR PARA O NORDESTE.
Fatores Culturais e Simbólicos: Memória Coletiva: O período Lula é lembrado como um "tempo de fartura" por muitos nordestinos, especialmente os mais pobres e mais velhos. Histórias de quem "comprou uma geladeira", "um terreno" ou "entrou na universidade" com políticas como o Prouni reforçam essa percepção.
Resistência Regional: O Nordeste, historicamente estigmatizado como atrasado por outras regiões do Brasil, encontrou no lulismo uma forma de afirmar sua importância política e social. Apoiar Lula tornou-se, para alguns, um ato de identidade regional contra o desprezo externo.
Conexão com Políticas Específicas: Educação: A redução do analfabetismo (de 22% em 2003 para 16,9% em 2010) e a expansão de universidades federais no Nordeste (como a UFBA em Vitória da Conquista) atenderam a uma demanda antiga por inclusão educacional.
Economia: O crescimento do PIB regional (média de 4,8% ao ano) e a valorização do consumo local, via Bolsa Família e crédito, deram dignidade econômica a uma população antes marginalizada.
Infraestrutura: Projetos como o Minha Casa, Minha Vida e o PAC mudaram a paisagem nordestina, trazendo moradia e empregos.
O lulismo nordestino não é apenas sobre resultados mensuráveis, mas sobre o que Lula representa: um contraponto à exclusão histórica e uma promessa de dignidade.
O lulismo no Nordeste é um fenômeno multifacetado: econômico, porque trouxe renda e infraestrutura; social, porque reduziu desigualdades; e cultural, porque deu voz a uma região historicamente silenciada.
A gestão Lula criou condições que frearam o êxodo e incentivaram o retorno ao Nordeste, com políticas que trouxeram renda, empregos e esperança à região. Esse foi um dos pilares do "lulismo nordestino", reforçando a ideia de que o Nordeste podia ser mais do que um lugar de partida.
Referências:
[1]: PNAD 2002: Dados sobre analfabetismo por região, incluindo a taxa de 8,6% para crianças de 10 a 14 anos no Nordeste e comparações com Sul (1%) e Sudeste (1,2%).
PNAD 2003-2008: Informações sobre a redução da taxa de analfabetismo no Nordeste, de 22,4% em 2003 para 17,8% em 2008, além de dados estaduais como Alagoas e Ceará.
Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/educacao/9127-pesquisa-nacional-por-amostra-de-domicilios.html
Estatísticas sobre a expansão do ensino superior, como o aumento de matrículas no Nordeste de 413 mil em 2000 para 1,4 milhão em 2012.
Disponível em: https://www.gov.br/inep/pt-br
Documentos oficiais do governo federal que detalham o impacto do programa na frequência escolar e na redução da evasão, especialmente no Nordeste. Esses relatórios são frequentemente citados em estudos do período.
Disponível em: Arquivos históricos do Ministério do Desenvolvimento Social (atual Ministério da Cidadania) – https://www.gov.br/cidadania/pt-br
[2]: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)Dados sobre PIB do Nordeste (crescimento de 4,1% ao ano entre 2003-2013; participação no PIB nacional subindo de 13% em 2002 para 14,33% em 2016).
- Queda na mortalidade infantil (58,6% entre 2000-2010).
- Emprego formal (5 milhões em 2002 para 9 milhões em 2013).
- Taxa de desemprego em 2024 (8,7% no Nordeste) e média nacional (6,4%).
- Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) para aumento da renda média entre 2001-2012.
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)
Impacto do Bolsa Família (R$ 1,00 gerando R$ 1,78 na economia e R$ 2,40 no consumo).
- Redução da pobreza (8,6 milhões entre 2002-2012, com contestação sobre a cifra de 36 milhões).
Banco Central do Brasil
Comparação do crescimento do PIB do Nordeste (4,1%) com a média nacional (3,3%) entre 2003-2013.
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